Quando o corpo Grita: Uma Jornada Entre Perfeccionismo e Autenticidade

Minha presença online sempre foi algo extremamente complexo para mim. Eu sempre fui o tipo de pessoa de pensar demais nas coisas. Sempre invejei as pessoas que conseguiam literalmente “Só fazer” (da amiga Nike: Just do it). Pra mim, ter uma presença online nunca foi “só fazer”. Eu sempre fui dolorosamente consciente da verdade por trás das redes sociais, que todo mundo quer esconder: o que a gente mostra, o que a gente é online, é um ser fabricado. É uma parte muito pequena da verdade.

Eu nunca fui uma pessoa muito calculista. Mais jovem acho que era honesta demais, simplista demais, inocente demais. O mundo me moldou, nos últimos vinte anos, para ser um pouco menos de tudo isso. Mas o nosso core sempre vai ser o nosso core.

São eventos excessivamente traumáticos que nos fazem pensar sobre o nosso core. Caroline McHugh já falou sobre o nosso core com muito mais desenvoltura que eu. Bom, meu evento “traumático” da vez foi uma apendicite aguda. Sim, isso existe, sim me senti em um daqueles 500 seriados médicos que tem apendicite como evento principal.

Eu sou um amalgama complexo de todas as minhas experiências e, por mais científica que eu goste de ser, eu sou também um pouco “espiritual”. No sentido de que, sim, eu acredito que uma apendicite aguda tem um grande dedo psicológico. Antes, quando eu tinha as minhas crises existenciais, eu caía em uma depressão profunda, parava de fazer tudo que era importante e eventualmente entendia que existia uma dor interna que eu estava ignorando. Quando você tem uma filha de um ano e meio, isso é algo que você não pode fazer. Então, sim, eu acho que ser internada, por mais breve que seja, tenha sido um sinal do meu corpo, do meu universo – vamos colocar assim – de que existe uma dor interna que eu não estou tratando.

E eu tenho que dar risada, porque uma semana antes do evento eu já tinha tido várias recaídas a respeito do meu core. É algo que qualquer eneagrama tipo quatro provavelmente vai entender. Algo totalmente inerente à Altas Habilidades em Linguagem. É a boa e velha pergunta: “Quem sou eu?” ou a mais focada “Qual é o meu propósito?”

Sempre batalhei muito com essas perguntas sobre identidade. Sempre quero saber. Sempre quero seguir um determinado propósito. Eu totalmente acredito no que Simon Sinek fala sobre começar pelo porquê. Eu sou extremamente ambiciosa, eu quero alcançar grandes coisas e, para isso, eu preciso ter extremamente claro em mim, qual é o meu porquê.

Já inventei muitos porquês…

E até hoje, nenhum deles fez sentido. Eu poderia discursar aqui sobre como pode ser desesperador não entender o que faz de você, você, ou porque é você que ocupa esse lugar ao invés de qualquer outra pessoa, mas na verdade não é sobre isso que eu quero falar.

Eu queria falar sobre ter menos certeza das coisas. No sentido de que, eu sempre amei escrever… E por mais que eu não tenha nenhum pingo de noção do porque isso acontece e qual é o propósito de eu escrever… Talvez a ideia seja ter menos certeza mesmo. Escrever porque sim. Escrever porque é o que precisa ser dito. Escrever porque é o que faz o meu coração palpitar, é o que me dá alegria e me faz levantar pela manhã. Escrever porque sim.

Não ter uma razão, um plano, é algo extremamente assustador. Escrever assim, porque deu na telha, é saber que talvez minhas ideias nunca me sustentem e provavelmente eu nunca vou alcançar as minhas ambições. Mas ao dizer porque sim, eu mantenho a chama viva, ao invés de tentar sem sucesso achar qual é o combustível.

E eu acho tão engraçado chegar a essa conclusão, porque eu estou literalmente indo contra o que diversas pessoas que eu admiro falam… Mas finalmente entender que, por mais que eu admire Simon Sinek, Marie Forleo e outros, talvez o que eles falem não seja o que eu preciso ouvir. Talvez, pra variar, eu precise é parar de ouvir os outros e ouvir a mim mesma – chame de coração, cérebro, alma. O que é que eu quero fazer?

E eu quero parar de calcular as coisas. Qual o jeito certo de estar presente nas redes sociais? Qual o jeito certo de criar um produto, uma empresa, um projeto?

E se… Nem acredito que eu estou falando isso, mas… E se não existir um jeito certo de fazer as coisas? E se só existir fazer e não fazer?

É tipo uma nuvem escura saindo da minha cabeça e eu entendendo novamente o que é meu perfeccionismo. Na busca constante pelo perfeito, pelo certo, você sempre chega à conclusão que o não fazer é o melhor caminho. Ou talvez você nem se deu conta que você passou vinte anos ponderando sobre o jeito certo e nunca iniciou nada. Acho que pior do que conscientemente não fazer nada é se enganar de estar fazendo alguma coisa e, ao final de vinte anos, não ter um único projeto pronto.

Acho que tá aí a razão interior do meu corpo se virar contra mim. Ele cansou da enganação. Da tentativa constante de atingir o perfeito, mas nunca sair do planejamento. Chega de pensar sobre como fazer. Eu preciso colocar a mão na massa e dar vasão pra essa criatividade que eu sempre me orgulhei tanto. Hoje em dia acho que dá é vergonha. Sempre falando, nunca fazendo. Você se sente tão desconexo de quem você é, porque você sabe que não é assim.

Quem diria, com segurança, que é uma pessoa que promete, mas não entrega? Eu certamente não quero ser essa pessoa. Por mais que eu tenha sido ela mais vezes do que posso contar.Dá pra notar a insatisfação de mim comigo mesma… E acho que agora não tenho órgãos inúteis pra retirar, então vou ter que ouvir meu corpo e começar a fazer algo a respeito. Dá pra dizer que o apêndice é o órgão do strike um… “Vá fazer alguma coisa, senão…”

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